sábado, 20 de março de 2010

Quem sabe?

Um dia recebi um e-mail de uma menina que achava que eu sabia a verdade sobre o amor. E ela ficava perguntando o que fazer, o que sentir, como remediar a culpa e a dor de cometer sempre o mesmo erro e sempre terminar o dia chorando. Um email triste de doer escrito por uma menina de dezesseis anos e cheia de sonhos quebrados.

"Como pode?", eu pensei. Como pode uma menina com tão pouca vida já ter sofrido tanto e, pior, como pode ela acreditar que eu, a mais confusa das cabeças e o mais errado dos corações, seja capaz de ter todas as respostas? Mas aí depois eu me lembrei. Me lembrei que aos dezesseis a gente ama com a alma mesmo porque, embora agente sofra de verdade, a gente ainda não sofreu tanto e o nosso coração quase não tem remendos.

E eu era a esperança dela porque eu escrevia bonito e triste, mas às vezes meu final parecia feliz. E eu sei que ela ainda não sabe que eu também sou muito nova pra ter chegado num final seguro e que, na verdade, enquanto estamos vivos - mesmo que com setenta, oitenta ou noventa anos - o final ainda não chegou.

Só que eu resolvi que eu não seria a primeira a costurar o, então, primeiro remendo no coração jovem daquela menina que nunca tinha me visto e me conhecia somente pelo que eu mostrava de mim ao mundo. E respondi : "Todos os amores são conchas vazias, todos os corações um dia são partidos. Mas quando a gente encontra alguém pra deitar do nosso lado e contar estrelas com a gente, é como se uma pérola só nossa brotasse dentro da concha e fizesse a gente esquecer o escuro e a solidão. Eu sei que você tem medo e eu também tenho, mas a vida veio pra ser vivida e, se um dia roubarem a sua pérola tenha apenas uma certeza: você não vai morrer e quando menos esperar outra pérola nasce. O nosso amor é burro, mas é bom. Quem escolhe se esconder dele por segurança não se machuca, é fato, mas também nunca conta estrelas de madrugada e nem, no final da vida, tem um colar de lembranças para contar.".

Eu acho que ela entendeu.