terça-feira, 22 de abril de 2008

Sessão da tarde

Quando eu era criança e ia visitar minha bisavó, eu sempre via ela sentada, toda paciente, bordando desenhos em ponto-cruz. Eu sentava ao lado dela e pedia pra que ela me ensinasse, e assim ela fazia. As nossas tardes então se passavam em frente à TV e bordando desenhos das revistas de ponto-cruz. Mas como tudo que requer muita paciência, eu acabei desistindo do ponto-cruz. Achei que era melhor escrever, pintar, cantar, correr pela rua e ralar os joelhos, ou ficar trocando as roupas das minhas bonecas até elas terem o outfit perfeito e eu não ter mais vontade de brincar com elas. Acho que eu achava que a cada pequenino xis que eu desenhava, era como se eu excluísse um monte de outras coisas que poderiam se formar em volta daquele desenho fixo. Mas eu acho que a minha bisavó estava certa. E, talvez, se eu tivesse terminado um desenho sequer de ponto-cruz, excluindo as possibilidades das beiradas, hoje eu saberia com mais exatidão qual de todas as coisas que eu acho que gosto eu quero ser agora que eu já cresci.