terça-feira, 22 de abril de 2008

Sessão da tarde

Quando eu era criança e ia visitar minha bisavó, eu sempre via ela sentada, toda paciente, bordando desenhos em ponto-cruz. Eu sentava ao lado dela e pedia pra que ela me ensinasse, e assim ela fazia. As nossas tardes então se passavam em frente à TV e bordando desenhos das revistas de ponto-cruz. Mas como tudo que requer muita paciência, eu acabei desistindo do ponto-cruz. Achei que era melhor escrever, pintar, cantar, correr pela rua e ralar os joelhos, ou ficar trocando as roupas das minhas bonecas até elas terem o outfit perfeito e eu não ter mais vontade de brincar com elas. Acho que eu achava que a cada pequenino xis que eu desenhava, era como se eu excluísse um monte de outras coisas que poderiam se formar em volta daquele desenho fixo. Mas eu acho que a minha bisavó estava certa. E, talvez, se eu tivesse terminado um desenho sequer de ponto-cruz, excluindo as possibilidades das beiradas, hoje eu saberia com mais exatidão qual de todas as coisas que eu acho que gosto eu quero ser agora que eu já cresci.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Faxina

A bagunça da gente de dentro faz com que o de fora pareça mais perturbado ainda. Minha mãe sempre me disse que se eu deixasse meus armários bagunçados, nada que eu tentasse fazer daria certo. Eu nunca acreditei nela e eu sempre tive tantas pessoas, e conversas, e situações pra arrumar na minha vida mas eu não conseguia. Esses dias então, por estar confusa ou estar grande, eu percebi: se eu não consigo organizar nem a fileira de camisetas, como vou poder organizar o que sinto, porque e por quem sinto? Não dá. E assim foi. Agora eu arrumo sempre todos os meus armários.

sábado, 12 de abril de 2008

Se você me ama e quanto

A noite veio e cobriu o que eu tinha pensado durante o dia com aquela tinta bem preta, que só ela tem. E eu, meio que sem querer, acabei esquecendo que quis brigar, que senti raiva e que fiquei frustrada por tantas coisas que pareciam ter sido importantes mas, agora, eu tinha simplesmente esquecido. Meu travesseiro tem o seu cheiro e eu entendo o porquê de tudo quando eu estou ali. É mágico. De noite não tem barulho, a não ser alguém respirando mais fundo meio perdido no que deseja enquanto sonha cansado. E eu não conseguia parar de pensar em como de dia a gente perde tempo com bobagens e de como a noite pode ser tão boa pra mim, sempre aqui, com você. De noite, na cama, eu fico pensando...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

"Há muita coisa que o tempo não pode apagar"

Meu coração bate tão forte que ameaça sair mundo afora e gritar tudo o que eu não tento dizer. Querer tanto e tão fundo. Ah, no fundo de mim, existem coisas inacreditáveis. Meus sentimentos às vezes são tão viscerais que eu pareço um bicho. Mas somos animais, não? Eu tenho instintos? Eu acredito em instinto, eu acho. Acredito em alguma coisa tão dentro de mim que me empurra. Não sei a diferença, de fato. Mas no meu porão, a Cinderela que mora aqui dentro, também, não tem acesso. E a fera surge, devora a Cinderela, devora meu incosciente e seus recônditos, devora meus medos. Nessa auto-digestão, o chão some e o mundo muda suas cores. Eu? Eu sou só um bicho movido por cheiros, por toques, por olhares. Que bom... Que bom que um olhar consegue mudar assim meu metabolismo e meu estado de cosnciência... Que loucura que o som de uma respiração pode fazer. Eu estou girando... Minha órbita mudou. A gravidade é realativa. É, meu querido, onde você está me levando...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Wilde

Eu queria ser um dos contos de fada de Wilde. Porque até o nome dele já sugeria toda essa loucura que ele escondia nas lições de moral de seus contos de fada. Eu acho que, na verdade, a vida teria sido muito mais fácil se eu, ainda criança, não tivesse mesmo entendido que as coisas preicisavam de uma moral, de serem certas de alguma forma, pra alguém aprovar. Eu pergunto: quem aprova? E mesmo sem resposta a vida segue cheia de perguntas e de decisões que não esperam o livro acabar para serem tomadas.

Pensando bem: você ferrou a minha vida, Oscar.